Numa corrida, começar à frente é sempre motivo de destaque. Mas o importante mesmo é terminar à frente. Na Baja de Loulé, João Ramos e Victor Jesus conseguiram uma coisa e outra. A Toyota Hilux dos campeões nacionais impôs-se por um minuto e 13 segundos de vantagem. Foi um emocionante duelo travado com a Volkswagen Amarok de Alexandre Ré e Hugo Magalhães. E podemos mesmo dizer que hoje, em Loulé, a maturidade saiu vencedora!
Sábado de manhã, no prólogo, João Ramos e Victor Jesus abriram a 30ª Baja de Loulé com uma vitória promissora. Como todos os triunfos num prólogo; são sobretudo uma promessa. De discutir a vitória final, é claro. Quase que uma declaração de intenções. Mas a tarde de sábado produziu outros resultados…
Num único sector selectivo, relativamente curto, com somente 82,6 quilómetros, Ramos e Jesus perderam 20 segundos para os mais rápidos. Com isso, os homens da Toyota desceram ao segundo lugar, por uma diferença de 11,8 segundos sobre os novos comandantes.
Duelo acendeu-se na primeira etapa…
No final da primeira etapa, Alexandre Ré e Hugo Magalhães eram os novos líderes; apesar de terem sofrido uma aparatosa saída de estrada, conforme ontem contámos e documentámos com algumas fotografias exclusivas. Foi um quase milagre, a forma como a Volkswagen Amarok de Ré escapou sem danos ao acidente sofrido.
E se é caso para dizermos que não foi por acidente que Ré se instalou no comando, a verdade é que este domingo o piloto começou a jornada a adiantar-se mais. Depois do segundo sector selectivo, o mais extenso de todos, com 123,86 quilómetros, Alexandre Ré aumentou a vantagem para um minutos e 50 segundos.
Ao princípio da tarde, quando a caravana arrancou para o sector selectivo final, restavam apenas cumprir 81,58 quilómetros. E as atenções estavam definitivamente concentradas na dupla João Ramos/Alexandre Ré.
Os vencedores da prova anterior, Nuno Matos e Pedro Marcão, já não chegaram a São Brás de Alportel, para a fase final; tinham partido em terceiro lugar para o segundo sector, mas nem 40 quilómetros percorreram. A direcção da Fiat Fullback de Matos começou a evidenciar problemas que determinaram o abandono prematuro.
E reacendeu-se nos quilómetros finais!
Antes mesmo de perderem a esperança de terminar Nuno Matos e Pedro Marcão já tinham perdido o terceiro lugar. E quando encostaram à berma, pouco após a dupla passagem a vau da ribeira de Foupana, já estavam afundados na classificação. Nessa altura, emergiu, literalmente, na classificação a Ford Ranger de Pedro Dias da Silva e José Janela; mal ascenderam ao terceiro posto, estes dois contaram logo com quase sete minutos de avanço.
Os adversários mais próximos de Silva e Janela eram Manuel Correia e Miguel Ramalho. O Mitsubishi de Manuel Correia tinha, por sua vez, um par de minutos de avanço sobre a Ford Range de André Amaral e Nelson Ramos. O que fez as atenções concentrarem-se em dois duelos que se reacenderam: este, na discussão do quarto lugar, e a luta pela vitória absoluta.
Antigo piloto de velocidade, onde se notabilizou nas corridas de montanha, Manuel Correia só esta temporada descobriu as provas de todo terreno. E o seu desempenho tem sido uma boa surpresa. Prova disso é que em apenas 30 quilómetros aumentou mais um minuto ao avanço sobre André Amaral. Mas depois um furo fê-lo perder toda a vantagem: no final do segundo sector o Mitsubishi de Correia trocara de posição, descendo ao quinto lugar, com dois minutos de atraso.
E nem André Amaral mais largou o quarto posto, nem Manuel Correia pôde contrariar isso. Porque antes mesmo de arrancar para o último sector selectivo, Correia desligou, sem perceber, o corta-corrente do Mitsubishi. E quando descobriu porque não conseguia colocar o motor em funcionamento, já tinha excedido a penalização máxima. E não foi autorizado a partir…
Eliminado o duelo pelo quarto lugar, sobrava a discussão pela vitória. Partindo com um minutos e 50 segundos de atraso, João Ramos e Victor Jesus dispunham de pouco mais de 80 quilómetros para recuperar a liderança. Tantos quantos Alexandre Ré e Hugo Magalhães tinham de percorrer a resistir ao prometido ataque de Ramos.
Arrancando atrás da Volkswagen, a Toyota de Ramos terminou à frente. Nem foi preciso consultar os resultados para se saber imediatamente que isso era o bastante para decidir a vitória a favor de João Ramos. Ganhando de uma assentada cerca de três minutos ao seu maior adversário, Ramos bateu Ré por um minuto e 13 segundos.
Desfecho sem ninguém “perder a cabeça”
E quando escrevemos que em Loulé a maturidade saiu vencedora, estamos a referir-nos aos dois pilotos que discutiram a vitória. Quem imaginava que João Ramos ia perder a cabeça na perseguição a Alexandre Ré, enganou-se. Porque isso nunca aconteceu. A Toyota foi aumentando gradualmente de ritmo e sem que Ramos abdicasse de uma condução espectacular. Mas também sem cometer erros.
Alexandre Ré seria ultrapassado na parte final da corrida. E também não cometeu erros. O acidente da véspera, com desfecho feliz, foi mais um incidente. Que deixou o piloto de Aveiro atento aos erros. E sob a pressão de Ramos, resistiu o mais que pôde.
O piloto da Volkswagen não conseguiu preservar o comando até ao fim e converter isso numa vitória. Mas teve direito a uma importante recompensa: ao somar dois segundo lugares em duas provas, é o novo líder do Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48.
Dentro de cerca de um mês, em Reguengos de Monsaraz, a terceira prova da época definirá um pouco quem são os candidatos a suceder a João Ramos e Victor Jesus como campeões. Esta vitória coloca-os nessa corrida ao título, onde já se perfilam Nuno Matos e agora Alexandre Ré. E faltam quatro provas para tudo terminar…
Diferença menor foi entre os dois primeiros
Ao analisar os resultados finais da Baja de Loulé, reparamos que a diferença mais reduzida entre dois concorrentes foi a que se registou entre os dois primeiros. Até isso indica o quanto foi ao rubro o duelo travado entre Alexandre Ré e João Ramos! Mas houve outros vencedores. E não nos esquecemos deles…
No grupo T8, o triunfo não teve nada de novo. Foi novamente conquistado por João Rato, que conduziu o Bowler Wildcat ao sétimo lugar absoluto.
Rato, que na prova algarvia contou com novo navegador, Pedro Colaço, perdeu um lugar face à jornada inaugural do campeonato, mas venceu folgado: bateu por quase quatro minutos a Nissan Navara de Rui e Miguel Marques. A dupla de Mação terminou duplamente atrás de Rato. Porque além de segundos em T8, foram oitavos da classificação geral.
À frente de Rato e dos irmãos Marques, mas sem direito a vitórias, colocaram-se as duplas David Spranger/Paulo Fiúza e Edgar Condenso/Nuno Silva, que discutiram o quinto lugar.
À partida para o sector final, o Opel Mokka de Condenso estava à frente do BMW de Spranger. Mas a meio do troço já tinha perdido o quinto posto por cinco segundos. E à chegada, a distância dilatou-se para mais de quatro minutos, obrigando Condenso a conformar-se com o sexto lugar!
Em décimo lugar, logo atrás do Mazda de Filipe Nascimento e Paulo Torres, descobrimos outros dos vencedores desta prova: Georgino Pedroso e Carlos Silva triunfaram no Grupo T2. E se este resultado já é habitual quer para o navegador, quer para a Isuzu D-Max da Prolama, já o mesmo não diremos do piloto: foi o primeiro sucesso de Georgino Pedroso. Curiosamente, o piloto começou exactamente como terminou, pois tinha ganho o T2 no prólogo.
Não foi uma vitória propriamente fácil. Pois beneficiaram sobretudo com o atraso da Nissan de Nuno Corvo e José Camilo Martins; a meio do último sector, esta equipa ainda liderava com mais de dois minutos de avanço. Mas à chegada tinham caído para o terceiro lugar do grupo.
Entre Corvo e os vencedores colocou-se ainda o Toyota Land Cruiser dos jovens João Ferreira e David Monteiro, a correr pela segunda vez. Sem os excessos da prova de estreia, onde aceleraram tanto que acabaram por bater, João Ferreira e David Monteiro também mostraram que em Loulé a maturidade saiu vencedora.
Fotos: AIFA/Albano Loureiro e A.C.
por: Alexandre Correia