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Escala na cidade do Sahara que já conheceu três países

11 May , 2017

Para quem desce no sentido norte-sul ao longo da costa africana, a cidade de Dakhla é a última que encontramos antes de chegarmos à Mauritânia.

Chegámos lá tarde, de noite, depois de uma maratona cansativa, em que o Peugeot 3008 percorreu de uma assentada para cima de um milhar de quilómetros. Erguida na ponta de uma extensa península, mais comprida do que larga, só vai a Dakhla quem quer mesmo lá ir, pois alcançamos a cidade percorrendo uma estrada sem saída, de quase 40 quilómetros em que não raras vezes temos a sensação de conduzirmos numa ilha, já que olhando à direita e à esquerda, só vemos mar.

“Comprada” pela Coroa Espanhola

Esta cidade, fundada pelos espanhóis, em 1884, quando se instalaram nestas paragens, foi o ponto de entrada dos nossos vizinhos na costa africana do Sahara, por onde os nossos navegadores tinham passado repetidamente, assinalando isso atribuindo nomes portugueses aos lugares que foram marcando nos mapas que se começaram a desenhar. O Cabo Bojador, um pouco mais a norte, é um desses exemplos, tal como o Cabo Branco, mais a sul, no limite da fronteira actual entre Marrocos e Mauritânia, ou ainda, entre ambos, a pequena baia do Portorico e a enorme baia de Angra de Cintra.

Reza a história que os espanhóis compraram todas estas terras de deserto ao chefe de uma tribo de berberes, nómadas, que reclamavam o seu domínio, mas que por umas moedas de ouro, entregaram à Coroa Espanhola, num acto devidamente oficializado por um notário, que veio expressamente de Canárias, ligeiramente mais a norte, para testemunhar o negócio.

Estas terras que nunca interessaram a Portugal, tinham outro significado para Espanha: detê-las permitiria aumentar a defesa das ilhas Canárias, combatendo logo no Sahara os piratas e corsários que se escondiam nas baias mais abrigadas, como a da península do Rio do Ouro; daí terem começado por aí fixar o primeiro aquartelamento militar espanhol.

Com o advento da aviação, Villa Cisneros, esta primeira cidade, que hoje conhecemos com o nome de Dakhla, também contou com uma pista de aterragem, que ao longo dos tempos foi crescendo e sendo melhorada, subindo de nível, para aeródromo e depois para aeroporto, hoje com uma extensa pista asfaltada, com mais de três quilómetros de comprimento, que atravessa quase toda a cidade, desde a entrada até muito perto da ponta, junto ao mar. Nessa pista, chegaram a aterrar os aviões da TAP que nos primórdios da companhia portuguesa voavam desde Lisboa até Lourenço Marques, actual Maputo, em Moçambique, com múltiplas escalas. A de Villa Cisneros era a segunda, depois de Casablanca e Lisboa.

Foi de lá que a 12 de Janeiro de 1976 partiu o último espanhol, o comandante da guarnição militar, que com a sua saída fechou o ciclo colonial, extinguindo o Sahara Ocidental Espanhol, parte integrante de uma região muito mais vasta, a África Ocidental Espanhola, que além deste território no deserto, contou com um retalho de diversas áreas espalhadas mais a norte, por onde esta Expedição Todo Terreno Peugeot 3008 Lisboa-Dakar-Bissau, passou primeiro, como Sidi Ifni, mas também um parte significativa da faixa costeira a norte de Rabat e até Tânger, além de quase toda a costa mediterrânica, onde ainda hoje a bandeira espanhola permanece nalgumas pequenas ilhas e, sobretudo, em duas grandes cidades: Ceuta e Melilla.

Revista Todo Terreno


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