Hoje, domingo significa mesmo dia de descanso para a caravana do Africa Race, que desfruta de uma jornada tranquila, acampada junto à praia, na encantadora península de Dakhla, mesmo à entrada desta cidade. É a última do Sahara Ocidental, sob administração marroquina, e nos tempos em que a soberania era exercida por Espanha, chamava-se Vila Cisneros, em homenagem a um importante cardeal. A sua pista de aviação era uma escala dos pioneiros da aviação, na primeira metade do século passado; a TAP, aterrava ali os seus DC3-Dakota da famosa Linha Imperial, a mais longa carreira alguma vez efectuada com estes aviões, que ligavam Lisboa a Lourenço Marques, actual Maputo, com múltiplas paragens, ora apenas para reabastecer combustível, como era o caso de Vila Cisneros, ora inclusivé para pernoitar! Digamos, pois, que é mesmo isso que hoje sucede com o Africa Race. Parou para reabastecer e pernoitar, no meio de uma longa viagem, que ainda faltam oito dias para ficar concluída: amanhã a caravana atravessa a fronteira para a Mauritânia e seguem-se seis etapas em pleno Sahara, para depois se concluir com uma única tirada no Senegal, até à chegada a Dakar! Na frente, a classificação dos automóveis e camiões é liderada pelo Toyota do belga Jacques Loomans, seguido pelo Kamaz do Anton Shibalov, a 17m26; seria bem curioso vermos um camião vencer em termos absolutos, alcançando um recorde inédito. Já nas motos, a KTM de Pal Anders Ullevalseter é a melhor, somando mais de duas horas de avanço, que permitem ao piloto norueguês encarar com total descontracção a travessia do Sahara. E quanto aos portugueses, a classificação das nossas três equipas é pobre: o MAN de Elisabete Jacinto, Marco Cochinho e José Marques ocupa o 24º posto entre 34 concorrentes, depois de terem oscilado entre o melhor, ganhando a segunda etapa, e o pior, atrasando-se com um furo na etapa inicial, com um atascanso na terceira e com um problema de suspensão na quarta; agora, este trio pensa apenas chegar a Dakar e em ganhar etapas, para compensar um resultado final que, dado o atraso já acumulado, dificilmente será honroso. E que podemos dizer dos dois motards portugueses? Muito pouco! Apenas sabemos que as coisas lhes correram bem mal logo ao arranque, provavelmente em consequência da inexperiência em correr nestas paragens. Nesta altura, Pedro Ribeiro (Yamaha) e Sérgio Castro (KTM), ocupam a ante-penúltima e penúltima posições da motos, a quase 66 horas do comandante, fruto sobretudo de 52 horas de penalização!
por: Alexandre CorreiaCoragem e ousadia são palavras que hoje se pronunciam com raridade, apesar de firmeza e convicção serem sinónimos utilizados cada vez mais para disfarçar...