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De um extremo ao outro

19 December , 2011

Nas últimas 24 horas, a nossa expedição pelo Peru mudou radicalmente de cenários e de condições. Passámos dos 29 graus celsios para os dois graus, dos 530 metros de altitude para os 4763 e de um cenário de floresta densa em Atalaya, à beira do rio Alto Madre de Dios, para os planaltos andinos, rochosos e apenas cobertos por vegetação rasteira. E se ontem olhar para o sol foi uma alegria, hoje mal o vimos. O que vimos foi um nevão a cair, que por momentos deixou tudo branco à nossa volta. Trocámos também as pistas lentas e estreitas do acesso à Amazónia por caminhos mais largos e rolantes no cimo das montanhas, onde o nosso Kia Sorento 4WD rolou durante dez horas seguidas, numa marcha em que raras vezes nos cruzámos com outra viatura e que alternou piso seco e bem poeirento com lama, não suficiente para que nos pudessemos atascar, mas bastante para nos obrigar a uma condução cirúrgica, por forma a não perder o controlo do carro. Passámos mesmo várias horas seguidas sem ver rigorosamente ninguém, mas também atravessámos autênticos banhos de multidão, como em Combapata, onde era dia de mercado e precisámos de mais de meia hora para conseguir percorrer cerca de 500 metros. A dada altura, um policia veio ajudar-nos a abrir passagem entre as pessoas, mas como ficou atrás do carro, de pouco nos serviu essa ajuda. Claro que no meio deste engarrafamento, aproveitámos para fazer compras, directamente da janela. E ainda bem, porque o pão que compramos foi o nosso alimento até jantarmos, bem tarde. Partilhámos esse pão com uma pastora que encontramos perto da pista, numa altura em que o Paulo Calisto procurava o melhor enquadramento para a foto que publicamos. A mulher veio de longe para lhe bater, literalmente, reclamando um pagamento por estar a tirar fotografias. A conversa azedou, mas logo mudou de tom, quando saí do Sorento e disse algumas palavras que a acalmaram. Foi nessa altura que se tornou merecedora de um dos nossos pães; demos-lhe o maior de todos, cientes de que lhe faria mais falta. E prosseguimos mais umas horas, numa viagem que entrou pela noite dentro e nos deixou cansados como nunca. É que, convém sublinhar, grande parte do dia foi vivido acima dos 4000 metros de altitude, o que só contribuí para aumentar o cansaço. Portanto, agora que os madrugadores, em Portugal, estão a despertar para mais uma semana de trabalho, nós, que não folgámos sequer no fim de semana, vamos mas é dormir! Tenham um bom dia, que nós vamos, de certeza, dormir que nem uma pedra…

Revista Todo Terreno


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